Quando eu descobri que também era neurodivergente...
Durante muito tempo, atendi pessoas que pensavam, sentiam e existiam de formas diferentes.
Mentes intensas, sensíveis, aceleradas.
Gente que vivia com TDAH, TEA, Altas Habilidades — ou que simplesmente carregava a sensação de estar “fora do padrão”.
Eu acolhia com escuta, empatia e técnica.
Estava ali como psicóloga, como neuropsicóloga.
Mas, aos poucos, algo começou a bater mais fundo.
Havia histórias que pareciam ecoar dentro de mim.
Sintomas que eu conhecia de perto, mesmo sem nunca tê-los nomeado.
Sensações que eu achava que eram só minhas — ansiedade crônica, exaustão, dor física, melancolia, distração, hiperfoco, necessidade de silêncio e estrutura.
Fragmentos de vivências que até então eu achava que faziam parte da “minha personalidade”.
Durante anos, fui nomeando essas partes como pude: depressão, fibromialgia, burnout, sensibilidade emocional.
Mas, mesmo com esses nomes, algo seguia faltando.
Era como se todas as peças estivessem ali, mas o quebra-cabeça ainda não formasse imagem.
Até que um dia, com calma e coragem, decidi fazer minha própria avaliação.
E o que encontrei foi mais do que um diagnóstico.
Foi um reencontro comigo mesma.
Recebi os nomes:
TEA (nível 1), TDAH, Altas Habilidades.
E, pela primeira vez, tudo fez sentido.
Não tornou tudo fácil — mas tornou possível.
Me deu linguagem. Me deu alívio. Me deu clareza.
E principalmente: me deu permissão para parar de me forçar a funcionar como todo mundo.
Essa descoberta não anulou quem eu era — só iluminou.
Hoje, olho pra minha trajetória profissional e pessoal com mais compaixão.
Entendo minha forma de pensar, sentir, trabalhar, existir.
E tudo isso transforma também a minha escuta clínica.
Porque agora, além da técnica, eu também trago a vivência.
E isso faz diferença.
Pra mim.
E pra quem chega.
Se você também sente que sempre existiu “fora do tom”, talvez você só esteja usando uma partitura que não foi feita pra sua melodia.
Compreender sua mente não resolve tudo.
Mas é o primeiro passo pra reencontrar seu bem-estar.
Nem sempre a gente se entende logo de cara.
Às vezes a vida inteira parece um grande esforço pra se adaptar — mesmo sem saber exatamente ao quê.
Você funciona, entrega, cuida, dá conta.
Mas por dentro… algo sempre parece desalinhado.
Como se estivesse todo mundo seguindo um mapa que você nunca recebeu.
Por aqui, demorou pra ficha cair.
Mas quando caiu, tudo fez sentido de um jeito difícil de explicar — e impossível de ignorar.
Entender que sou neurodivergente foi como encontrar uma chave.
Não uma que abre todas as portas…
Mas uma que me libertou de ficar batendo em tantas erradas.
Essa não é uma história sobre diagnósticos.
É sobre reencontro.
Com a minha forma de ser, de pensar, de existir.
E se você anda se sentindo perdido ou cansado de se forçar…
Talvez essa chave também esteja mais perto do que parece.
Fica por aqui.
A gente se encontra com calma.